Um dos trabalhos que mais chamou a atenção no último Congresso Americano de Cardiologia, realizado no início do mês na Califórnia, é brasileiro. Não para menos: a pesquisa, feita no Hospital do Coração (HCor), em São Paulo, indica que a cirurgia bariátrica pode ser mais eficaz do que os remédios no combate à hipertensão de difícil controle.
“É a primeira vez que se mostra, com o mais alto nível de evidência, que ela tem efeito específico contra essa doença, assim como já vimos no diabetes tipo 2”, apontam os especialistas.
No levantamento, 100 hipertensos com IMC (índice de massa corpórea) entre 30 e 39,9 – o que os caracteriza como obesos – foram divididos em dois grupos, sendo que todos já usavam pelo menos dois medicamentos. Metade foi submetida à redução de estômago e seguiu tomando remédios, enquanto o restantew combinou as pílulas com orientação nutricional.
A expectativa inicial era a de que a cirurgia diminuísse em 30% o número de drogas ingeridas diariamente. Mas o resultado surpreendeu: um ano depois, 51% dos operados voltou a exibir níveis normais de pressão e parou de engolir os comprimidos, algo que não aconteceu em ninguém da outra turma. Só não se sabe se, depois de mais alguns meses, a hipertensão voltaria a dar as caras (e se as medicações evitariam isso).
De qualquer jeito, o mais interessante é que a melhora começou a aparecer antes de o peso diminuir, provavelmente por causa das mudanças metabólicas promovidas pelo procedimento.
O achado vem pouco tempo depois do uso da bariátrica ser ampliado para diabéticos tipo 2 com IMC acima de 30 – antes, ela só era preconizada para pacientes com esse número na casa dos 35. E chama a atenção, porque a pressão cronicamente alta é mais prevalente no Brasil do que o diabetes.
“Para ter ideia, 80% dos diabéticos são hipertensos, mas só 25% dos hipertensos são diabéticos. Estamos falando de 35 milhões de pessoas, e sabemos que o controle da doença hoje é precário”, expõe o cardiologista Marcus Bolívar Malachias, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
A investigação ainda precisa continuar por muito mais tempo antes de tirarmos conclusões finais. Contudo, ela abre precedente para que a operação de redução de estômago vire uma opção contra a hipertensão. Até mesmo porque a balança tem muito a ver com o distúrbio.
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